
Quando viu um elevador pela primeira vez, Vitória tinha 53 anos. Carregava duas sacolas pesadíssimas. Achou que tinha entrado num quarto desconhecido e adormeceu.
Ficou dez anos e dois meses lá. Quando finalmente saiu, seus cabelos, que eram castanhos, haviam branqueado.
Hoje vive sentada no banco da praça, debaixo da constante chuva fina que cai sobre a cidade.
Aborda os que passam, pede um cigarro e pede também um tempinho para ouvirem as suas histórias. Desfia lembranças e casos da vida toda, e se empolga ao contar da época em que vivia no elevador.
- Lá era uma maravilha - diz Vitória, com olhos perdidos no passado - e não chovia nunca, acredita?