30 junho 2008

EM NOME DE ELKHA RHAMÁ


O relógio marca 14 horas quando Anerlinda, descalça e vestindo uma longa túnica branca toca a campainha da casa de número 69 de uma rua tranqüila.
Quem atende à porta é um senhor de setenta e poucos anos, calvo e de barba grisalha. Com uma mão na maçaneta e a outra no bolso do roupão azul desbotado e cheirando a urina, ele a encara com olhar aborrecido.
Com as duas mãos ela levanta, reverente, acima da própria cabeça, uma pequena garrafa que contém um estranho líquido amarelento. E pronuncia algumas palavras, em tom reverente:
- É curta a distância entre o paraíso e o inferno, o amor e o ódio, a glória e o esquecimento. Não há divindade além de Elkha Rhamá e tu és o nosso mestre e profeta, adorado La Rhiva.
Mal acaba de falar, Anerlinda destampa a garrafa, toma um gole e despeja o resto do gosmento líquido nos pés do velho, que começa a praguejar feito doido e a expulsa dali aos berros.
Ela corre, amedrontada, e percebe que fez confusão com os números ao ver um grupo reunido em frente ao número 96 da mesma rua. Todos louvam o grande mestre e fazem o ritual da garrafa, menos Anerlinda. Por ter derramado o precioso líquido nos pés de um velho ateu, pelo resto da vida ela será amaldiçoada.

28 junho 2008

MARMITA DE ELEFANTE

Eram 11 horas da manhã. Sebastião Rodrigues assobiava, entregando marmitas na vizinhança quando, sem mais nem menos, virou fumaça. Apesar de uma extensa ficha criminal, ele era especialista em física celeste e aquilo o deixou perplexo. Tentou recapitular os acontecimentos daquela manhã, na esperança de encontrar alguma explicação.
Naquele dia, acordara cedo, vasculhara a lixeira do prédio e encontrara um elefante. Era um animal gigantesco que, no entanto, não conhecia a própria força. Estava ali, segundo ele mesmo, por causa das intempéries da natureza.
- O desafio é urgente: você quer mergulhar numa operação suicida ou aquietar o espírito no balanço dos ventos tibetanos? – fora a pergunta lançada pelo grande proboscídeo.
Sebastião titubeara e não dera resposta alguma, preferindo deixar a decisão para mais tarde. Seguira pensativo pelas ruas, se distraindo com dezenas de virgens que cruzaram pelo seu caminho, e logo não se lembrava mais da importante questão, pois além de indeciso era muito esquecido.
Só voltou a se lembrar do episódio do elefante quando entregava marmitas. Olhou o relógio e viu que eram 11 horas. Mas aí já era tarde demais.
Virou fumaça.

27 junho 2008


O BURACO DA MINHOCA

Casimiro estava em casa, cuidando de seu jardim, quando encontrou um buraco de minhoca. Tratou de levá-lo para dentro, pendurou-o na parede e produziu, por meios quânticos, energia negativa para impedir que ele se transformasse num buraco negro.
Em poucos dias o buraco havia crescido assustadoramente e atingira uns dez metros de diâmetro. Curioso, Casimiro espiou pela abertura e viu, do outro lado, um homem lhe acenando com a mão. Pensativo, deduziu que os dois deviam estar separados não só no espaço, mas também no tempo.
Depois de um breve momento de hesitação, criou coragem, vestiu seu melhor terno e se enfiou pelo túnel, levando apenas a sua velha escova dental, óculos de sol e protetor solar.
Para Casimiro, a viagem durou um ano, mas, ao retornar, se espantou ao descobrir que, do lado de cá, já haviam se passado dez anos. Seu irmão gêmeo, agora nove anos mais velho que ele, estava magro, tinha a barba por fazer e se comportava de um jeito estranho, falando sozinho o tempo todo.
Sua casa estava destruída e dominada pelas minhocas, que haviam se reproduzido às centenas e se divertiam fazendo um novo buraco a cada dia.
Até que, quando tudo parecia perdido, chegaram os pescadores.


25 junho 2008

O BEIJO ANTROPOFÁGICO

Chegou como quem traz uma surpresa:
- Abra a boca e feche os olhos!


Obedeço.
E minha língua é devorada...

24 junho 2008

Lesson one__________________________

THE TABLE IS ON THE BOOK



Não se iluda:
você é uma ilusão
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