O filme já foi chamado de Alice no País das Maravilhas às avessas. Tim Burton, que cedeu gentilmente a direção a Martin Scorsese, hoje filma a fábula original de Lewis Carroll, quem sabe para compensar o fato de não ter dirigido Depois de Horas naquela época.
31 dezembro 2008
O filme já foi chamado de Alice no País das Maravilhas às avessas. Tim Burton, que cedeu gentilmente a direção a Martin Scorsese, hoje filma a fábula original de Lewis Carroll, quem sabe para compensar o fato de não ter dirigido Depois de Horas naquela época.
27 novembro 2008
19 novembro 2008
17 novembro 2008
Planejei assistir Vicky Cristina Barcelona no final de semana, mas o câmbio do carro quebrou e não deu. Sou fã de carteirinha de Woody Allen, tenho quase todos os filmes dele, alguns ainda em VHS. Nenhum artista, por melhor que seja, consegue ser 100% excelente, todos tem seus altos e baixos. Com Woody não é diferente, e embora eu prefira muitos dos seus filmes mais antigos (Crimes e Pecados, A Rosa Púrpura do Cairo, Zelig), acho que ele tem feito coisas muito interessantes, ultimamente. Muitos cobram uma volta às comédias de início de carreira (Bananas, Um Assaltante Bem Trapalhão), mas ele, fã de Bergman, sempre gostou mais de drama.
Segundo Eric Lax, um jornalista americano que o entrevistou por 36 anos e agora lança o livro CONVERSAS COM WOODY ALLEN, ele construiu sua carreira na comédia na esperança que os estúdios, depois que ele fizesse nome como cômico, financiassem seus dramas, o que acabou acontecendo.
Ainda segundo Lax, Woody detesta prêmios: "Se você aceita um prêmio, aceita também a opinião de quem o deu e terá de aceitá-la novamente se essas mesmas pessoas decidirem que seu filme seguinte é um fiasco".
Lax revela também: "Como muitas pessoas engraçadas, Woody tem uma visão melancólica da vida."
E uma boa notícia. Mais três filmes dele estão sendo lançados em DVD: Broodway Danny Rose, A Era do Rádio e Memórias (o preferido do Biajoni).
11 novembro 2008
Aleluia! Fui um dos escolhidos: Recebi, em mãos, a 3ª Profecia de Fátima!
Oitenta e oito anos depois da aparição da Santa às criancinhas italianas, a igreja católica autorizou a divulgação do segredo.
O objetivo, segundo a carta que recebi "não é causar pânico, mas para que as pessoas devam conhecer para se prepararem".
A profecia fala de acontecimentos "nas proximidades do ano 2000":
"Um homem em posição muito alta será assassinado, e isto causará a guerra. Uma arma poderosa caminhará através de Europa e a guerra nuclear começará."
Mas, não se preocupe. Compartilho aqui a receita para quem quer se livrar da catástrofe:
"Velas santificadas e (tchanrã!!!) água benta."
"O senhor protegerá as propriedades dos eleitos".
"Em uma noite muito fria, 10 minutos antes da meia-noite, um GRANDE TERREMOTO sacudirá a terra durante 8 horas."
Sim, às 8 horas, mas no horário de qual país? E o horário de verão, avisaram a Santa, pelamordedeus?
06 novembro 2008
05 novembro 2008
24 setembro 2008
"E a montanha insiste em ficar lá, parada."
ADRIANA CALCANHOTO, no CD Maré
23 setembro 2008
Eu caminhava pela avenida, observando os edifícios, quando avistei, do outro lado da rua, a felicidade.
Embora tenha feito plástica e mudado o penteado, não havia dúvida: era ela. E caminhava linda, leve, num moderno formato 3D.
Um caminhão de sexo e morte encostou do seu lado, o motorista pôs a cabeça pra fora e gritou, de maneira desesperada:
-Cuidado! Existem outras mais bonitas que você em cada esquina, é melhor se cuidar!
Quando o caminhão se afastou, ela correu assustada para o seu carro blindado e saiu cantando os pneus.
Respirei fundo, fechei os olhos, e ouvi uma explosão ensurdecedora.
16 setembro 2008
02 setembro 2008
26 agosto 2008
Ficou dez anos e dois meses lá. Quando finalmente saiu, seus cabelos, que eram castanhos, haviam branqueado.
Hoje vive sentada no banco da praça, debaixo da constante chuva fina que cai sobre a cidade.
Aborda os que passam, pede um cigarro e pede também um tempinho para ouvirem as suas histórias. Desfia lembranças e casos da vida toda, e se empolga ao contar da época em que vivia no elevador.
- Lá era uma maravilha - diz Vitória, com olhos perdidos no passado - e não chovia nunca, acredita?
25 agosto 2008
23 agosto 2008
Querida e imaculada Clara,
Só agora consegui lhe escrever para contar o que se passou quando fui visitar o cego vidente. Você sabe que eu nunca acreditei nessas coisas e até hoje não sei como fui parar num lugar daqueles. Mas para mim tudo começou a fazer sentido assim que parei em frente à porta do velho casebre. Ouvi uma voz, que vinha do lado de dentro: "Estou vendo que tem gente com medo de entrar. Venha, venha mais fundo. Temos que ter mais intimidade com a morte".
Abri a porta e fui entrando bem devagar porque, confesso, realmente estava assustado.
O ambiente cheirava a mofo e, quando meus olhos se acostumaram com a escuridão, pude
enxergar o cego sentado em sua cadeira de balanço. Foi então que perguntei: "Quanto tempo ainda tenho de prazer nessa vida?"
Ele ficou imóvel e calado, me encarando como se pudesse me ver. Aos poucos, uma expressão indefinível foi estampando o seu rosto. Comecei a sentir dores terríveis por todo o corpo e uma sensação esquisita tomou conta de mim. As dores eram insuportáveis e uma inexplicável e brutal transformação aconteceu comigo.
Não vejo a hora de lhe encontrar, para que você mesma veja os detalhes dessa minha estranha metamorfose.
Só quero que você saiba, Clara, que estou mudado, muito mudado, mas estou cada vez mais igual.
...
20 agosto 2008
09 agosto 2008
03 agosto 2008
01 agosto 2008
31 julho 2008
“Histórias em quadrinhos são a fantasmagórica fascinação daquelas pessoas de papel, paralisadas no tempo, marionetes sem cordões, imóveis, incapazes de ser transportadas para os filmes, cujo encanto está no ritmo e no dinamismo. É um meio radicalmente diferente de agradar aos olhos, um modo único de expressão. O mundo dos quadrinhos pode, em sua generosidade, emprestar roteiros, personagens e histórias para o cinema, mas não seu inexprimível poder secreto de sugestão, que reside na permanência e na imobilidade de uma borboleta num alfinete.”
Federico Fellini
25 julho 2008
Nélson tem 29 anos e, além de otário, é um grande masoquista. Passou a infância morando num carro, no meio do trânsito. Raramente saía, e quando saía as outras criancinhas, desgraçadas, lhe dirigiam olhares de desprezo, viravam-lhe as costas ou atiravam-lhe pedras.
Hoje, crescido, ele mora num avião e vive na janela, com um microscópio nas mãos. Sente saudades de quando era criança e jura que foram os dias mais felizes de sua vida.
(Desenho do fundo do baú)
21 julho 2008
17 julho 2008
Ernesto Zamparoli suou frio a noite toda e acordou de madrugada, se sentindo meio estranho. Foi ao banheiro, lavou o rosto e encarou no espelho o seu oposto:
- Esse é o homem que eu imaginei ser um dia?
Trepou num cavalete bambo, no meio da sala, e esperou o dia amanhecer. Aquela seria a noite de sua estréia e a necessidade de aprovação lhe causava angústia.
Às oito da manhã ele saiu apressado e correu até o ponto de ônibus. Súbito, se sentiu bem disposto, decidiu não parar e continuou correndo. Trombou com pessoas na calçada e escapou várias vezes de ser atropelado por automóveis e bicicletas. Em dúvida sobre qual caminho devia seguir, foi tomando direções ao acaso.
Quando já anoitecia, se vendo perdido, Zamparoli parou de correr. Só então percebeu, aliviado, que se encontrava diante do prédio em que morava.
Às oito da noite, enquanto todos o aguardavam para a estréia, ele estava diante do espelho, molhado de suor e com um sorriso de satisfação no rosto. O seu oposto o encarava, apontando, orgulhoso:
- Esse é o homem... esse é o homem...
14 julho 2008
10 julho 2008
A queda foi do 13º andar. Com apenas vinte anos repetira o trajeto aéreo do pai rumo à morte.
Mais de cento e cinqüenta pessoas se aglomeram no local, com os olhares dirigidos para o alto, como que aguardando uma reprise do salto.
No meio da multidão, uma figura se destaca. É a de um homem, com o braço esquerdo levantado e a face transtornada.
Um garoto magro, de óculos, está desenhando com o papel bem perto do rosto do cadáver, que traz “smile” na camiseta ensangüentada.
Foi preciso chamar os bombeiros para retirar o corpo, estatelado numa área de difícil acesso.
A coisa toda durou quase três horas. No meio do dia, o corpo já não estava mais lá.
E então, como se alguém tivesse acionado algum botão invisível, tudo voltou ao normal.
09 julho 2008
“Você está atrasado”, resmungou Asdrúbal, abandonando o seu bom humor habitual. E, apontando a caneta para mim: “Isso me estressa, você sabe que eu prezo a pontualidade”.
Tentei botar a culpa no taxista, mas vi que era perda de tempo. Ele voltou a rabiscar os papéis e eu passei os olhos pelo minúsculo e caótico escritório, abarrotado de pinturas desbotadas, livros aos pedaços, estátuas balinesas e muitas fotos espalhadas sobre a mesa, que me chamaram a atenção. Percebendo o meu olhar curioso, juntou as fotos e colocou, de maneira desajeitada, num envelope pardo.
Fiquei ali uns vinte minutos, mostrei a carta que ele me pediu e fui liberado. Quando abri a porta e saí, me fotografaram. O flash me assustou. Estava sozinho e fiquei com medo de desmaiar, como das outras vezes, mas só caí e machuquei o joelho. Tanto medo assim tem explicação: há cinco anos, ao abrir a mesma porta, dei de cara com um sujeito grandalhão e com mau-hálito, que me deu uma porrada no peito. Fiquei um tempo inconsciente, e quando recuperei os sentidos, ele me disse: “Aprendi com os bichos a viver em harmonia e a tirar deles só o necessário”. Se mandou e eu fiquei estendido no chão.
No dia seguinte ao meu encontro com Asdrúbal, embarquei num navio norueguês de sismologia. A tripulação passou a viagem toda entoando uma cantiga que acompanhava o ritmo das ondas, o que me deixava ainda mais enjoado.
No terceiro dia começou a nevar.
Vesti minha roupa antitérmica e só então percebi, estarrecido, que tinha esquecido as meias.
07 julho 2008
05 julho 2008
Argemiro é o homem mais sábio do pequeno vilarejo. Tem apenas dois livros em casa, mas faz questão de dizer que cada um tem 892 páginas. “E sem ilustração”, faz questão de frisar.
Muitos curiosos o visitam e ele exibe, orgulhoso, os dois catataus: estão dispostos no chão, em lados opostos da sala, e servem de apoio a uma tábua fina e estreita, que divide o cômodo ao meio. Ele explica que usa a tábua para atravessar a sala de um lado a outro, todos os dias, tentando manter o equilíbrio. E que esse ato é uma metáfora de sua própria vida.
Quando lhe pedem detalhes, responde que ele mesmo não é capaz de entender. Mas que a resposta está nos dois livros, que ele, infelizmente, não pode tirar do lugar, senão a metáfora se destrói.
03 julho 2008
Laís, filha de um iraniano e de uma inglesa, é vista perambulando todos os dias por aí, com o coração na mão.
Tum... tum...
Alguma coisa do seu mistério, do seu amor desvairado, da sua paixão visceral arde nas ruas.
... tum... tum... tum...
Chegou faz sete anos e um fato inédito aconteceu: a cidade, que tem oito milhões de habitantes, deixou de ser um lugar violento e caótico.
- Laís, minha querida, o que será de nós se você morrer?
- se desespera a velhinha apoiada numa bengala, agarrando-a pelo braço.
Laís procura não se afastar de casa por mais de quinze minutos. Quando volta, retoma a rotina como se não tivesse saído dali.
Um dia, sente o peito apertar e passa a respirar com dificuldade.
... tum...
Sente uma necessidade urgente de sair de casa, não consegue encontrar a chave e se desespera. Arranca os cabelos, arranha as paredes, se contorce e ajoelha.
Então, ouve uma voz que lhe sussurra:
- “O que tiver que acontecer, Laís, acontecerá”.
Seu coração... tum... tum. bate mais forte... tum tum tum cada vez mais acelerado... tum tum tum tumtumtumtumtumtumtumtumtum...
.............................................................................
... e pára.
...
Caída no chão, Laís.
Em volta, apenas o silêncio.
01 julho 2008
Durante as obras para sanar uma infiltração na capela, os funcionários e moradores da vila tiveram uma surpresa: encontraram uma porta que, ao ser aberta, os levou a um jardim com centenas de hectares de área verde. No meio dele, um fóssil enorme e bem conservado do que parecia ter sido o ancestral da borboleta. Ao seu lado vários ovos, de cores e tamanhos variados.
Temerosos, quiseram voltar e lacrar a porta novamente. Mas, antes que pudessem dar meia volta, ouviram o bater dos sinos.
- Agora não tem mais volta – disse assustado um morador antigo. O sino não bebe cachaça porque tem a boca para baixo.
-E o ovo porque está cheio – arrematou um outro.
O dia se tornou noite e, debaixo de trovoadas e de uma tempestade como nunca viram igual, começaram a brigar entre eles, com táticas e técnicas impressionantes de combate.
Os pacatos moradores da vila protagonizaram, naquele dia, um dos eventos mais sangrentos da história da humanidade.
30 junho 2008
O relógio marca 14 horas quando Anerlinda, descalça e vestindo uma longa túnica branca toca a campainha da casa de número 69 de uma rua tranqüila.
Quem atende à porta é um senhor de setenta e poucos anos, calvo e de barba grisalha. Com uma mão na maçaneta e a outra no bolso do roupão azul desbotado e cheirando a urina, ele a encara com olhar aborrecido.
Com as duas mãos ela levanta, reverente, acima da própria cabeça, uma pequena garrafa que contém um estranho líquido amarelento. E pronuncia algumas palavras, em tom reverente:
- É curta a distância entre o paraíso e o inferno, o amor e o ódio, a glória e o esquecimento. Não há divindade além de Elkha Rhamá e tu és o nosso mestre e profeta, adorado La Rhiva.
Mal acaba de falar, Anerlinda destampa a garrafa, toma um gole e despeja o resto do gosmento líquido nos pés do velho, que começa a praguejar feito doido e a expulsa dali aos berros.
Ela corre, amedrontada, e percebe que fez confusão com os números ao ver um grupo reunido em frente ao número 96 da mesma rua. Todos louvam o grande mestre e fazem o ritual da garrafa, menos Anerlinda. Por ter derramado o precioso líquido nos pés de um velho ateu, pelo resto da vida ela será amaldiçoada.
28 junho 2008
Eram 11 horas da manhã. Sebastião Rodrigues assobiava, entregando marmitas na vizinhança quando, sem mais nem menos, virou fumaça. Apesar de uma extensa ficha criminal, ele era especialista em física celeste e aquilo o deixou perplexo. Tentou recapitular os acontecimentos daquela manhã, na esperança de encontrar alguma explicação.
Naquele dia, acordara cedo, vasculhara a lixeira do prédio e encontrara um elefante. Era um animal gigantesco que, no entanto, não conhecia a própria força. Estava ali, segundo ele mesmo, por causa das intempéries da natureza.
- O desafio é urgente: você quer mergulhar numa operação suicida ou aquietar o espírito no balanço dos ventos tibetanos? – fora a pergunta lançada pelo grande proboscídeo.
Sebastião titubeara e não dera resposta alguma, preferindo deixar a decisão para mais tarde. Seguira pensativo pelas ruas, se distraindo com dezenas de virgens que cruzaram pelo seu caminho, e logo não se lembrava mais da importante questão, pois além de indeciso era muito esquecido.
Só voltou a se lembrar do episódio do elefante quando entregava marmitas. Olhou o relógio e viu que eram 11 horas. Mas aí já era tarde demais.
Virou fumaça.
27 junho 2008
Em poucos dias o buraco havia crescido assustadoramente e atingira uns dez metros de diâmetro. Curioso, Casimiro espiou pela abertura e viu, do outro lado, um homem lhe acenando com a mão. Pensativo, deduziu que os dois deviam estar separados não só no espaço, mas também no tempo.
Depois de um breve momento de hesitação, criou coragem, vestiu seu melhor terno e se enfiou pelo túnel, levando apenas a sua velha escova dental, óculos de sol e protetor solar.
Para Casimiro, a viagem durou um ano, mas, ao retornar, se espantou ao descobrir que, do lado de cá, já haviam se passado dez anos. Seu irmão gêmeo, agora nove anos mais velho que ele, estava magro, tinha a barba por fazer e se comportava de um jeito estranho, falando sozinho o tempo todo.
Sua casa estava destruída e dominada pelas minhocas, que haviam se reproduzido às centenas e se divertiam fazendo um novo buraco a cada dia.