26 maio 2009

FRONTEIRA


No início do século, numa manhã de segunda-feira, duas vacas no pasto ainda molhado pelo orvalho, com capacetes multicoloridos, olham desconfiadas os passaportes que lhes são apresentados.


Amélia e Aurora, duas jovens de vinte e poucos anos se entreolham, com os nervos à flor da pele. Após quatro noites sem dormir, caminhando pela mata fechada, com fome, sono e bolhas nos pés, agora não podem prosseguir. Estão ali há exatos 33 minutos e as vacas, irredutíveis, apenas balançam as cabeças e os rabos,
negando-lhes a passagem.

Aurora se afasta, entra na mata e sai de lá só de biquíni, com um celular em punho. Isso parece ter agradado demais as vacas, pois elas começam a se abraçar e saltitar. Uma delas tira o capacete e fala:

- Por favor, se não for pedir muito, será que vocês podiam entrar na mata e chegar aqui de novo?

Munidas de mapas e bússolas, Amélia e Aurora somem mata adentro. Cruzam morros, vales e rios, enfrentam aranhas e noites de frio e toda espécie de mosquito. Quando regressam, exaustas, encontram as duas vacas no pasto ainda molhado pelo orvalho, que olham desconfiadas os passaportes das duas jovens e balançam as cabeças, negando-lhes a passagem.

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