O CORAÇÃO DAS RUAS
Laís, filha de um iraniano e de uma inglesa, é vista perambulando todos os dias por aí, com o coração na mão.
Tum... tum...
Alguma coisa do seu mistério, do seu amor desvairado, da sua paixão visceral arde nas ruas.
... tum... tum... tum...
Chegou faz sete anos e um fato inédito aconteceu: a cidade, que tem oito milhões de habitantes, deixou de ser um lugar violento e caótico.
- Laís, minha querida, o que será de nós se você morrer?
- se desespera a velhinha apoiada numa bengala, agarrando-a pelo braço.
Laís procura não se afastar de casa por mais de quinze minutos. Quando volta, retoma a rotina como se não tivesse saído dali.
Um dia, sente o peito apertar e passa a respirar com dificuldade.
... tum...
Sente uma necessidade urgente de sair de casa, não consegue encontrar a chave e se desespera. Arranca os cabelos, arranha as paredes, se contorce e ajoelha.
Então, ouve uma voz que lhe sussurra:
- “O que tiver que acontecer, Laís, acontecerá”.
Seu coração... tum... tum. bate mais forte... tum tum tum cada vez mais acelerado... tum tum tum tumtumtumtumtumtumtumtumtum...
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... e pára.
...
Caída no chão, Laís.
Em volta, apenas o silêncio.
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